sexta-feira, 31 de maio de 2013

Estilos de aikido



Proliferação de organizações independentes

A maior organização de aikido actualmente existente é a Fundação Aikikai que permanece sob o controle da família Ueshiba. Apesar de tudo, a divulgação desta arte marcial pelo mundo, teve como consequência o aparecimento de vários estilos, os quais foram maioritariamente desenvolvidos pelos principais estudantes de Morihei Ueshiba.

Os primeiros estilos independentes que tiveram significante repercussão foram o Yoseikan Aikido, iniciado por Minoru Mochizuki, em 1931; o Aikido Yoshinkan fundado por Gōzō Shioda em 1955;21 e o Aikido Shodokan, desenvolvido por Kenji Tomiki em 1967.O aparecimento destes estilos ocorreram durante a vida de Ueshiba, algo que não ocasionou em grandes conflitos quando foram formalizados enquanto disciplinas pertencentes ao aikido. Contudo, o Aikido Shodokan, originou em algumas controvérsias uma vez que introduziu uma regra única de competição que alguns aikidokas encararam com algo contrário ao espírito do aikido.

Após a morte de Ueshiba, em 1969, mais dois estilo de aikido emergiram. A principal controvérsia até aqui originada ocorreu após a saída do mestre Koichi Tohei do Aikikai Hombu Dōjō, em 1974. Tohei abandonou o dojo após um desentendimento com o filho do fundador, Kisshomaru Ueshiba, que na época administrava a Fundação Aikikai. A desavença ocorreu sobre o caminho apropriado para o desenvolvimento do ki nos treinos regulares de aikido. Depois de Tohei deixar a instituição, este fundou o seu próprio estilo, designado de Shin Shin Toitsu Aikido, o qual é governado pela organização Ki Society (Ki no Kenkyukai). O último grande estilo evoluiu da aposentadoria de Ueshiba em Iwama, Ibaraki, cujo a metodologia de ensino a longo prazo foi da autoria de Morishiro Saito. Este estilo é oficialmente conhecido por "estilo Iwama", e até certo ponto, um reduzido número de seguidores formaram uma pequena rede de escolas as quais denominaram Iwama Ryu. Apesar dos praticantes do estilo Iwama conservarem o aikido após a morte de Saito em 2002, os seguidores do mestre dividiram-se em dois grupos. Um deles permaneceu com a Fundação Aikikai enquanto que o outro formou uma associação independente, a Shinshin Aikishuren Kai em 2004 baseada nos conhecimentos do filho de Morihiro, Hitohiro Saito.

Hoje em dia, os principais estilos de aikido luta individualmente por uma organização independente do governo, e possuem uma sede própria no Japão designada de Aikikai Hombu Dōjō, a qual direcciona e coordena as regras do estilo Aikikai, servindo como base para as várias associações nacionais espalhadas pelo mundo.



Estilos de aikido

Conforme sucedeu com outras artes marciais japonesas, depois que o Fundador faleceu (sendo a figura unificadora), fatores internos levaram à fragmentação da modalidade e, assim, hoje a arte possui algumas ramificações, a maioria criados por antigos alunos de O-Sensei. Por outro lado, alguns apontam que o aikidô não possui estilos verdadeiros, eis que o próprio Fundador admitia que os instrutores ensinassem conforme seu entendimento.

Aikikai
O aikikai está relacionado à Fundação Aikikai no Japão encabeçada pelo Dōshu Moriteru Ueshiba, neto do fundador. Em caráter global, o estilo é representado pela Federação Internacional de Aikido (IAF). Diferentemente de outras escolas, no Aikikai cada mestre busca sua própria interpretação do aiquidô. Isso reflete em uma grande diversidade técnica dentro da organização, do "estilo". De qualquer maneira, a técnica é sempre fluída e não há competições de nenhuma forma.

Iwama Ryu
O estilo Iwama, também conhecido por Iwama-ryu ou Iwama Juku, trata-se de um nome informal para o estilo de aiquido ensinado por Morihei Ueshiba no dojo de Iwama. É comumente utilizado para descrever o estilo praticado por Morihiro Saito, um dos discípulos que estudou por mais tempo diretamente com O-Sensei (de 1946 até 1969). O estilo de Iwama inclui um estudo combinado do aiki-jo (bastão), do aiki-ken (espada) e do tai-jutsu (técnicas de mãos livres). Podemos encontrar praticantes do Iwama-ryu dentro e fora da fundação Aikikai. A maior organização independente do estilo é a Iwama Shin Shin Aiki Shurenkai, encabeçada por Hitohiro Saito, filho de Morihiro Saito.

Shin Shin Toitsu Aikido
Também conhecido por Ki-Aikido, o Shin Shin Aikido Toitsu foi desenvolvido por Koichi Tohei com base em estudos realizados com o mestre Tempu Nakamura (fundador do Shin Shin Toitsu Do, ou "caminho da unificação mente-corpo"). Este sistema peculiar é caracterizado por técnicas muito subtis e fluídas, com ênfase no desenvolvimento da energia (ki).

Aikido Shodokan
O estilo Shodokan, também conhecido por Tomiki Aikido, foi fundado pelo mestre Kenji Tomiki. É o único estilo que permite a competição, sendo uma mistura da forma original com o método de ensino do judo moderno. Incorpora várias formas de desequilíbrio, esquiva, golpes, torções, arremessos, rolamentos e giros no seu repertório técnico. Ele ensina desde técnicas tradicionais até técnicas desenvolvidas para o meio competitivo. O Shodokan engloba kata, treino livre, competição e defesa pessoal. A participação em competições não é obrigatória.

Yoshinkan
Fundado por Gozo Shioda, o Aikido Yoshinkan possui ênfase na eficiência em combate devido à qual é frequentemente visto como um estilo duro em alternativa aos estilos concentrados na fluidez, estética e espiritualidade. É ensinado à polícia municipal de Tóquio.

Shin'ei Taido
O Shin'ei Taido ou Noriaki Inoue, foi criado pelo sobrinho do fundador do aikido, o sensei Noriaki (Yoichiro) Inoue (1902-1994).

Korindo
O Aikido Korindo foi criado por Minoru Hirai, antigo discípulo do Fundador no Aikikai Hombu Dojo em Tóquio. Este mestre foi também o responsável pela criação do nome da arte marcial, quando em 1942 foi delegado da instituição perante o Butoku-kai.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Aikido 合気道, caminho da harmonia da energia






Em 1883, nasceu em Tanabe, Japão, o Fundador do AIKIDO, Morihei Ueshiba, cuja excepcional aptidão e paixão pelas artes marciais levou-o a praticar e tornar-se mestre em várias delas: YAGYURYU JIUJUTSU, SHINKAGUERYU KENJUTSU, DAITORYU AIKIBUJUTSU, entre outras. Além disso, dedicou-se aos estudos de uma religião original e tradicional do Japão.

Consagrado como “Homem Invencível” dedicou-se a aprofundar sua espiritualidade, atingindo o Satori (Iluminação). A partir da visão de que a origem do Budo (Caminho do Guerreiro) é a manutenção do espírito de amor universal, compreendeu que as artes marciais não deveriam ser um instrumento para conduzir o mundo à destruição pelas armas, mas sim um caminho para realizar o pleno potencial divino contido no homem. Esta notável visão foi o início do AIKIDO.

Tecnicamente assemelha-se a diversos estilos de JIUJUTSU, de bastão (JOJUTSU) e de espada (KENJUTSU). Mesmo o princípio de não se chocar com a energia dos oponentes e nem se deixar envolver por seus movimentos, envolvendo-os no fluxo de sua energia, já eram conhecidos e praticados pelas diversas artes marciais existentes.

O aikido é exercido através da combinação de movimentos atacantes, redireccionando a força adversária, ao invés de combatê-la directamente. Isto requer uma reduzida força física, uma vez que o aikidōka (praticante de aikido) conduz o impulso atacante dando entrada ao ataque a partir da transformação dos movimentos rivais. As técnicas são complementadas com várias projecções, torções e contusões comuns.

O que existe de tão excepcional no AIKIDO?

É o sentido “Aiki”, em que as técnicas são executadas e treinadas concentrando-se na idéia de captação da energia universal pela autopurificação e na não destruição do adversário. Em todo treinamento de AIKIDO os praticantes são incentivados à autoconsciência, a colocarem-se em harmonia com o parceiro, com a natureza e com a vontade de Deus.

Inicialmente, o AIKIDO era ensinado somente a pessoas de alto nível moral e intelectual, a quem era imposta a condição de já serem praticantes em nível de 5º Dan (grau de faixa preta) de alguma outra arte marcial, vindo a ser divulgado em outros países somente após a Segunda Guerra Mundial.

"O coração do AIKIDO é: Verdadeira vitória é vitória sobre si, dia de instantânea vitória! "Verdadeira vitória" significa infinita coragem; "Vitória sobre si" simboliza incansáveis esforços; e "Dia de instantânea vitória" representa o glorioso momento do triunfo no aqui e no agora. AIKIDO é livre de formas rígidas, responde a qualquer contingência, deste modo assegura-nos a verdadeira vitória; ele é invencível pois não luta com ninguém. Realize: Verdadeira vitória é vitória sobre si, dia de instantânea vitória, e você estará hábil a integrar os fatores interno e externo da prática, limpe seu caminho de obstáculos e purifique seus sentidos."

Morihei Ueshiba

Influências religiosas                                                                                                                              

Onisaburo Deguchi
Na segunda metade da década de 1920, retornando à terra natal, Ueshiba conheceu e foi profundamente influenciado por Onisaburo Deguchi, líder espiritual da religião Ōmoto-kyō (um movimento neo-xintoísta) em Ayabe.Uma das características principais da Ōmoto-kyō baseia-se na consecução da utopia durante uma vida. Esta foi, portanto, uma influência de significante importância sobre a filosofia das artes marciais de Ueshiba, de amor e compaixão principalmente para aqueles cujo o ódio é o seu principal infortúnio. O aikido evidência essa filosofia numa essência apurada através da masterização das artes marciais, para que seja possível auferir um ataque e redirecciona-lo inofensivamente em sentido oposto. Esse aspecto religioso, combinado com treino e com suas algumas correntes ideológicas e políticas, criou a cércea na qual uma novel arte marcial emergiu. Pode-se afirmar que o aikido surgiu de um processo de evolução pessoal, o qual ficou marcado como paradigma a ser seguido pelos aikidōka.
 Em suma, o aikidōka é não só um defensor como um atacante, saindo ileso da investida adversária.
Para além do resultado do seu crescimento espiritual, a relação com Deguchi proporcionou a Ueshiba a entrada para os círculos da elite política e militar enquanto um mestre de artes marciais. Como desfecho dessa admirada exibição, Ueshiba foi capaz de atrair não só apoio financeiro, mas também alunos com capacidades distintas. Vários desses alunos foram capazes de definir os seus próprios estilos de aikido.



Divulgação internacional                                                                                                                       
Durante o estabelecimento de sua escola, mestre Ueshiba manteve contacto com diversos mestres, das mais variadas escolas e estilos de artes marciais. Em 1951, esta arte marcial japonesa começou a ser difundida em todo o mundo por Minoru Mochizuki, quando este viajou até França, onde introduziu técnicas de aikido em escolas de judo. No entanto, foi Tadashi Abe que a partir de 1952 deu continuidade ao ensino desta arte marcial no ocidente. Tadashi permaneceu na França por sete anos, e tornou-se no representante oficial da sede da fundação Aikikai Hombu, uma organização que agrupa várias instituições de aikido. O professor Kenji Tomiki, fundador do estilo japonês Aikidō Shōdōkan, viajou com uma declaração a várias artes marciais através de quinze estados continentais dos Estados Unidos, em 1953. Mais tarde, no mesmo ano, Koichi Tohei foi enviado pelo dojo Aikikai Hombu para o Havaí, onde permaneceu durante um ano, estabelecendo inúmeros dojo. Seguido por outras numerosas visitas, este foi considerado o ponto da introdução formal do aikido nos Estados Unidos. O Reino Unido, foi o destino subsequente em 1955, seguido da Itália em 1964 por Hiroshi Tada e Alemanha por Katsuaki Asai em 1965. Seiichi Sugano foi nomeado para apresentar o aikido à Austrália em 1965. Hoje em dia existe escolas de aikido operantes em todo o mundo. Através do famoso actor americano Steven Seagal, o aikido foi exibido em vários filmes de Hollywood na década de 1990.



sexta-feira, 17 de maio de 2013

O Fluxo de KI, por Kisshomaru Ueshiba



"Ki é um dos difíceis conceitos do pensamento oriental, o qual tem contribuído para o alto padrão da filosofia que nós na Ásia temos herdado de nosso passado ancestral.

Nossos ancestrais acreditavam que ki era a pró vida. Este é o caminho para concentrar a força da vida ou o poder do espírito. Mesmo nos dias de hoje nós usamos muitas palavras que refletem esta herança. Por exemplo, nós sentimos que nada pode ser realizado por uma pessoa que tiver o seu ki caído, desespiritualizado, ou se seu ki definha, estar em baixo espírito. A doença em japonês pode ser literalmente lida como doença do ki e é assim que está ligada em nossas mentes com a morte.

Quando é possível ativar livremente e exibir o máximo do ki qualquer ser humano possui, este leva a um inesperado e forte poder. Ele também permite viver mais livre e mais vigorosamente a vida. Aqui repousa o significado da existência do Aikido. Quando corretamente treinado, uma pessoa torna-se hábil para manifestar seu ki livremente.

Afim de dominar este sentimento, o ki, que é o conteúdo do poder da respiração humana, e o ki original, que é onipresente no universo, devem estar em concordância. A característica que distingue os movimentos do Aikido é que eles harmonizam-se com a ordem do universo e ajustam-se espontaneamente a suas mundanças, por isso em Aikido um treino com o objetivo de conceber a unificação do ki individual com o ki do universo é feito pela alimentação kokyuryoku, o poder da respiração. Quando este poder da respiração é expandido para todas as partes do corpo e enviado para fora diretamente por ambas as facas das mãos, as técnicas do Aikido tornam-se ativas e mostram seu completo valor. Isto leva uma pessoa a tornar-se una com a totalidade da natureza.

É impossível executar a forma da Mãe Natureza em si mesmo se seus movimentos estão aprisionados dentro do ego. O oponente deve ser guiado e feito uno com seus movimentos, enquanto você permanece no estado de espírito que é freqüentemente chamado o domínio do não eu. É aqui que se sente o fluxo vivo do ki. Quando alguém está habilitado a dominar as técnicas Aiki de tal modo que ela fica livre e fluente em seu comando, o adversário poderá ser movido para qualquer lado que se queira por meio do fluxo vivo de ki. Ele terá aprendido a respirar o fluxo de ki do oponente dentro da sua própria respiração e poderá controlá-lo através desta unidade antes do que pela oposição.

Este uso correto do Fluxo do Ki pode ser somente dominado através do treinamento constante do Aikido e pelo uso correto da força da respiração. Assim nós podemos definir o fluxo de ki como sendo o estado no qual a totalidade da força vital que está distribuída para qualquer se humano está sendo demonstrada na mais completa emanação possível".

Fonte: akikai
Outras informações: Kisshomaru Ueshiba foi o terceiro filho de Morihei Ueshiba, o fundador do aikido. Kisshomaru foi o Doshu sucedendo seu pai até o fim de sua vida em 1999. Kisshomaru nasceu em Ayabe em 1921. Ele se formou na Universidade Waseda em economia.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Modelos da espada Japonesa




Uma espada japonesa legítima é geralmente fabricada artesanalmente e sob encomenda, adequando-se a características e necessidades de cada pessoa. Isso faz com que nenhuma espada seja exatamente igual a outra, e que nenhuma padronização de medidas tenha sido aplicada com absoluta precisão, mesmo quando houve produção maciça de katanás.
Espadas japonesas são medidas em unidades de shaku (1 shaku mede aproximadamente 30,3 centímetros), ou 10/33 metros. Também existem as medidas sun (um décimo de shaku), bu (um centésimo de shaku) e rin (um milésimo de shaku).

- Chisa-kataná: é uma kataná média, medindo entre 60 e 70 cm (um pouco mais longo que a wakizashi, mas mais curto que a kataná).

- Daitõ: nome que se dá a qualquer espada longa, com lâmina medindo mais de 2 shaku (mais de 60 cm).

- Daisho: nome que se dá ao conjunto de uma kataná com uma wakizashi (duas espadas de samurai similares, diferentes apenas no comprimento).

- Kataná: espada curva com ponta em forma de cunha, empunhadura longa para duas mãos e lâmina comprida com corte unilateral, medidindo em média de 60 a 70 cm, podendo ser mais longa. Ideal para rápidos golpes de corte e resistente, foi adotada pela classe guerreira (bushi).

- Kodachi: é a tachi curta, com lâmina que mede mais de 1 shaku e menos de 2 (entre 30 e 60 cm).

- Kozuka: pequena e fina faca utilitária, feita para se encaixar entre a saya (bainha) e a tsuba (guarda, placa redonda chata e vazada para proteger as mãos) de uma kataná. Seu cabo trabalhado serve de complemento decorativo da saya.

- Naginata: espada curta montada num cabo longo, lança. Também chamada de yari.

- Nodachi: kataná extraordinariamente longa, chegando a medir 3 shaku (90 cm), que é carregada nas costas. É o mesmo que õdachi.

- Sai: tridente com lâmina central mais longa que as lâminas laterais, usada para deter golpes de um adversário com uma kataná. Dela deriva o jitte, cassetete fino de metal sem ponta viva, com um gancho no lugar do copo da empunhadura, usada por policiais na Era Edo (1603-1867).

- Shotõ: nome que se dá a qualquer espada curta, com lâmina medindo mais de 1 shaku e menos de 2 (entre 30 e 60 cm).

- Tachi: refinada espada pronunciadamente encurvada de ponta dupla, com corte de um só lado da lâmina. Longa (75cm em média), usada pendurada por correntes com uma cinta, esse tipo de espada foi adotada pela alta aristocracia a partir do séc. VII.

- Tantõ: adaga; lâmina com menos de 1 shaku (30 cm). Usada em suicídio ritual.

- Tsurugi: espada de dois gumes e ponta dupla, similar às espadas ocidentais antigas, feita no Japão na Antigüidade. Seu formato e forma de fabricação baseavam-se em modelos e técnicas da China.

- Wakizashi: é a kataná curta, medindo de 30 a 60 cm

Fonte: www.culturajaponesa.com.br

sexta-feira, 3 de maio de 2013

JESUÍTAS E DAIMYÔS. EVANGELIZAÇÃO E PODER POLÍTICO NO JAPÃO DO SÉCULO XVI

Quando entraram em contato com os japoneses, em meados do século XVI, os padres da Companhia de Jesus julgaram ter encontrado a nata dos povos ultramarinos. Tendo uma cultura fortemente marcada pelo respeito às tradições e às hierarquias, o povo nipônico animou as expectativas dos católicos de uma larga difusão do cristianismo. No entanto, não foi bem assim que aconteceu. Por cerca de um século, os missionários enfrentaram muitas resistências no Japão.

A aproximação entre portugueses e japoneses se deu em 1543, quando comerciantes lusitanos aportaram na ilha de Tanegashima, em Kyushu, região no sul do país. No século XVI, o Japão se encontrava em processo de unificação política. No período, chamado de Sengoku-Jidai (do século XV ao XVII), o território foi dividido em várias províncias autônomas. Os mercadores souberam tirar proveito da anarquia política e do enfraquecimento do governo do xógum – líder político-militar que assessorava o imperador –, oferecendo espingardas e porcelana à aristocracia guerreira japonesa em troca de prata. Os jesuítas chegaram poucos anos depois, em 1549, mas com intenções bem mais ousadas: inciar as missões.

Os padres encontraram o budismo e o xintoísmo, duas tradições religiosas que se entrelaçavam na região, e, aparentemente, o cristianismo não enfrentaria nenhuma hostilidade religiosa. Auxiliados por um intérprete cristão japonês, Anjirô, cujo nome cristão era Paulo de Santa Fé, os jesuítas Francisco Xavier, Cosme de Torres e João Fernandes foram recebidos em uma embaixada pelo daimyô (aristocrata) da província de Satsuma. Quando seguiram rumo à capital do Japão, Miyako (atual Kyoto), os padres conheceram a real situação do país, que vivia um momento de fraqueza do poder imperial. Embora tivessem sido recebidos pelo xógum, sua empreitada foi malsucedida porque eles não conseguiram autorização para evangelizar o povo. Os missionários se estabeleceram, então, em Yamaguchi, na província de Suô, em Honshu, onde o padre Xavier foi autorizado a iniciar a missão.

Para Xavier, as dificuldades com a língua e com a escrita ideográfica eram um dos obstáculos a serem enfrentados. Por isso, era preciso que os missionários aprendessem o idioma e investissem na criação de um corpo de cristãos japoneses para lhes servirem de auxiliares e intérpretes, os chamados dojukus. Experiente em lidar com a aristocracia guerreira japonesa, o jesuíta pensou na possibilidade de converter o maior número de daimyôs e de samurais, com a intenção de estimular uma reação em cadeia na sociedade japonesa, já que a população estava hierarquicamente submetida à autoridade dessas elites.

Essa estratégia até deu certo de início, mas esbarrou em sérios problemas. Devido à autonomia das províncias e à falta de unidade do país, era difícil manter as missões em vários locais. Quando os religiosos avançavam sobre novas cidades, as anteriores eram perdidas. Outro grande entrave era que, além de serem reféns do jogo político dos daimyôs – mais interessados nas armas estrangeiras do que na diversidade religiosa –, os jesuítas eram acusados de incitar a população contra sacerdotes japoneses. Por isso, os padres foram violentamente expulsos da maioria das comunidades em que tentaram penetrar. 


Em outras regiões, o catolicismo conseguiu melhor inserção, pois os jesuítas puseram em prática suas estratégias de conversão e suas obras de caridade. O padre Luís de Almeida foi responsável pela criação de um hospital e de um orfanato na cidade de Funai, em Bungo. Outros missionários se destacaram pela confecção de imagens religiosas e de catecismos em japonês, graças às técnicas de impressão trazidas pelos próprios religiosos. Em 1563, em Kyushu, a presença cristã ganhou um importante aliado: o daimyô de Hizen, Omura Sumitada, converteu-se e foi chamado de D. Bartolomeu. No tempo em que esteve no poder, defendeu a causa cristã, mandando queimar e destruir os templos e os santuários, além de autorizar a perseguição às pessoas que se negassem ao batismo.

Já na capital, Miyako, a vida dos padres não era confortável. Embora fundassem ali uma pequena igreja, tiveram que resistir à perseguição dos bonzos – conselheiros religiosos – e dos gentios. O xógum, após ter seu castelo invadido, acabou cometendo o seppuku – técnica de se matar cortando as próprias vísceras – em 1565. Por medida de segurança, os jesuítas foram expulsos da capital e, novamente reclusos em Kyushu, puderam dar atenção a suas antigas freguesias.

Enquanto isso, durante a guerra civil que dividia o Japão, o daimyô Oda Nobunaga vinha se destacando nos campos de batalha. O aristocrata percebeu que poderia tirar proveito da aliança com os estrangeiros, e, seduzido pelas espingardas europeias, defendeu os jesuítas para enfraquecer o poder político dos bonzos. No tempo em que liderou a guerra, parte de Kyushu e de Honshu, a maior ilha do Japão, estiveram sob seu domínio. Nesses locais, as missões prosperaram e os jesuítas puderam voltar a pregar na capital. Os padres concentravam grande parte de sua logística no povoado de Nagasaki, cujo porto se tornou um dos mais importantes para os negócios dos mercadores na década de 1580.

Dois jesuítas se destacaram nesse período: Luís Fróis e Alessandro Valignano. O primeiro ganhou projeção ao se esforçar na compreensão do idioma, na produção de catecismos, na confecção de livros e tratados e na redação de um grande volume de cartas – 252 no século XVI. Circulou por quase todas as áreas de atuação dos jesuítas no Japão, o que deu a ele uma visão mais ampla do fenômeno missionário. Já Valignano esteve no Japão três vezes. Na primeira visita, o padre já havia se preocupado em investir na capacitação dos dojukus, adaptando o método jesuítico aos costumes locais. Participou também dos preparativos para a criação da Santa Casa da Misericórdia de Nagasaki.

Quando tudo parecia bem para a expansão jesuítica, Nobunaga foi traído por um membro do seu exército e cometeu oseppuku. Foi a partir daí que as relações luso-nipônicas sofreram uma reviravolta. Seu sucessor, Toyotomi Hideyoshi, alegou que a cultura cristã desarticulava as tradições do bushido – o código de conduta dos samurais – e do xintoísmo, ameaçando as estruturas de poder e as hierarquias da sociedade japonesa. Partidário de uma nova estratégia política, rompeu com os missionários ao promulgar, em 1587, o Édito de Hakata, primeiro documento anticristão japonês, que determinava a expulsão dos jesuítas da região central do país.

A partir do Édito de Hakata, da rivalidade luso-espanhola e das demais ordens religiosas no Extremo Oriente, o monopólio dos jesuítas sobre o Japão ficou mais vulnerável. Apesar disso, o cristianismo não recuou. Em Funai, foi construída uma diocese em 1588, e Nagasaki continuou a prosperar.

Os portugueses tentaram se aproximar de Hideyoshi, promovendo uma embaixada liderada por Valignano em 1591. Porém, a ação não surtiu o efeito esperado e o édito foi mantido. Um ano depois, quando Hideyoshi reuniu os damiyôsvassalos de Kyushu para invadir a Coreia, os dominicanos chegaram ao Japão. Para estimular a rivalidade institucional entre os jesuítas e as ordens cristãs, o regente do imperador título adotado – autorizou a presença dos franciscanos no país em 1593. Mas o radicalismo de Hideyoshi foi ainda maior: ordenou o assassinato coletivo de vinte e seis cristãos, entre os quais alguns religiosos franciscanos e jesuítas, além de leigos japoneses. Ocorrido em 1597, o episódio ficou conhecido como o primeiro Martírio de Nagasaki. A partir daí, tanto os jesuítas quanto as demais ordens religiosas sentiram-se ameaçados. Após a morte de Hideyoshi, em 1598, o daimyô Tokugawa Ieyasu assumiu o xogunato, unificando o Japão.

Nesse novo governo, os nanban-jins, como eram conhecidos os portugueses, perderam terreno no país. Além disso, as viagens entre Macau e Nagasaki foram interrompidas pela Companhia das Índias Orientais. Em 1609, os holandeses aumentaram sua presença em Kyushu e foram autorizados por Tokugawa Hidetada, filho de Ieyasu, a estabelecer uma feitoria na região.

As restrições à presença estrangeira e ao cristianismo deram aos japoneses convertidos uma nova característica. Após 1614, ano de publicação de outro édito anticristão, o país ficou fechado para os estrangeiros. Muitos missionários passaram a viver clandestinamente no país, chamados de kakure kirishitan (cristão escondido). Os católicos utilizaram várias técnicas para se camuflar entre a população, a fim de não levantar suspeitas. Sabe-se que essas comunidades secretas resistiram até meados de 1685, quando os Tokugawa resolveram investir definitivamente contra a presença estrangeira no Japão.



Jorge Henrique Cardoso Leão é pesquisador do Núcleo de Estudos Japoneses (UFSC) e autor da dissertação “A arte de evangelizar: jesuítas, dojukus e mediações culturais no Japão (1549-1587)” (UERJ, 2010).


SAIBA MAIS - Bibliografia
BOXER, Charles Ralph. The Christian Century in Japan (1549-1650). Califórnia: University of California Press, 1951.
COSTA, João Paulo de Oliveira e. Portugal e o Japão: o século Nanban. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1993.
PINTO, Ana Fernandes. Uma Imagem do Japão: a aristocracia guerreira nipônica nas Cartas Jesuíticas de Évora, 1598.Macau: Instituto Português do Oriente e Fundação Oriente, 2004.
THOMAZ, Luís Felipe. Nanban Jins: os portugueses no Japão. Lisboa: CTT Correios, 1993.


Saiba Mais - Filme 
“Kagemusha: a sombra do samurai”, de Akira Kurosawa, 1980.


fonte: http://pxhistoria.blogspot.com.br/2012/07/jesuitas-com-uma-missao-quase.html


Resumo do artigo:

"O trabalho tem por objetivo compreender a forma de percepção que os jesuítas tiveram da guerra civil japonesa (Sengoku Jidai) e da necessidade dos padres em estabelecer, através dos meios de mediação, uma estratégia de aproximação das elites locais como forma de proteção diante da situação política delicada que o arquipélago vivenciava, assim como a tentativa de promover um movimento de evangelização em cadeia, a partir da conversão dos Sengoku-Daimyôs. "
segundo o autor Jorge Henrique Cardoso Leão*


Segue o link para o artigo Completo publicado da Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano IV, n. 10, Maio 2011 - ISSN 1983-2850
http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf9/14.pdf