quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Os Deuses da Arte da Espada Japonesa


A arte da espada japonesa sofreu influências de inúmeras culturais, filosofias e religiões.  Assim, ao longo do tempo, inúmeros deuses foram reverenciados por seus praticantes.
Vamos cita três deuses inicialmente :

Take-Mikazuchi-no-Kami
Futsu-Nushi-no-Kami
Marishiten

Nestes deuses reverenciados foram escolhidos por aparecerem com certa frequência em inúmeros escritos e tradições da arte da espada.
Além disso, os documentos de estilos das artes marciaisjaponesas como diplomas de graduação, não raro citam divindades para explicar as origens do estilo, seus ensinamentos ou até mesmo garantir que o praticante não divulgue de maneira leviana o conteúdo do estilo.

Estátua do Take-Mikazuchi-no-Kami no Santuário de Kashima

 Tori (portal) no Santuário de Kashima


Take-Mikazuchi-no-Kami :
Dentro das tradições shintoístas, Take-Mikazuchi-no-Kami ocupa uma posição de suma importância para artes marciais.
Também chamado Take-Mikazuchi-o-no-Kami, Takefutsu-no-Kami ou Toyofutsu-no-Kami, ele é um dos três deuses nascidos das gotas de sangue da espada Ame-no-Ohabari. Esse sangue foi derramado quando o deus Izanigi-no-Mikoto, um dos criadores do Japão, decapitou seu filho Kaguzuchi, o deus do fogo.
De acordo com as lendas, Take-Mikazuchi-no-Kami participou da pacificação do país de Ashihara-no-Nakatsu, em um embate entre os deuses do céu (Amatsu-Kami) e os deuses da terra (Kunitsu-Kami). Nesse confronto, ele cravou uma espada no chão, com ponta para cima, e se sentou  sobre ela sem se ferir, em uma demostração que sua provava a sua invulnerabilidade  as armas e, portanto, seu poder enquanto divindade marcial. Por isso, ele foi considerado deus das artes marciais, do exército, da espada e do arco e flecha, sendo venerado no santuário de Kashima, na província de Ibaraki. Ainda hoje, muitos locais de treino penduram o nome  do santuário de Kashima para simbolizar a sua ligação com artes marciais.
É interessante destacar a composição do seu nome , Take indica “marcialidade”, ao mesmo tempo em que é relacionado com “criação”, “construção”. Mikazuchi significa “relâmpago”, simbolizando a velocidade fulminante e o forte ímpeto dos ataques. Por fim Kami significa “deus”.
Importante notar que, dentro das Três Joias Divinas do Japão ( a espada, o espelho e a joia), a espada é a única que possui o poder de criação.


 Santuário de Katori.


Futsu-Nushi-no-Kami:
Juntamente com Take-Mikazuchi-no-Kami, Futsu-Nushi-no-Kami também possui uma forte ligação com a artes marciais.
Conhecido também com Iwai-Nushi-no-Kami, ele aparece apenas no escrito Nihon Shoki, sendo o filho de dois deuses nascidos das gotas de sangue da espada Ame-no Ohabari.
Futsu, em japonês, representa o som que denota a facilidade com que uma espada corta o alvo, simbolizando assim o poder da arma, extremamente afiada e cortante.
Assim com Take-Mikazuchi-no-Kami, Futsu-Nushi-no-Kami também participou da pacificação de Ashihara-no-Nakatsu, e algumas fontes consideram que os dois são na realidade uma única entidade.
Este divindade é cultuada no santuário de Katori, na província de Chiba. Muitos locais de treino também penduram o nome do santuário de Katori, da mesma forma que o santuário de Kashima.
Os dois deuses e respectivos santuários ocupam um lugar extremamente importante nas tradições da arte da espada japonesa.

 Um fato interessante que aconteceu no passado por volta de 1447 D.C. que um dos discípulos do Fundador Katori Shinto ryu foi lavar um cavalo numa nascente chamada Fonte Divina ou Fonte do Deus, perto do Santuário Katori. Pouco tempo depois, o cavalo começou a sofrer de dores e morreu.
Para Choisai sensei, esse acontecimento foi uma revelação do poder divino da divindade xintoísta adorada no Santuário Katori, divindade chamada de Futsunushi-no-Kami. A morte do cavalo deu-lhe uma espécie de intuição espiritual do poder da divindade. Por isso, ele decidiu passar mil dias em adoração no Santuário Katori. Nesse período, dedicou-se a austeras práticas de purificação e estabeleceu para si um cronograma rigoroso de treinamento marcial.
Ao final desse período de penitência e treinamento, ele estabeleceu os ensinamentos que constituem a Katori Shinto Ryu.
Choisai Sensei acreditava que havia descoberto os ensinamentos diretos e verdadeiros do deus Futsunushi-no-Kami, adorado no Santuário Katori, e por isso antepôs ao nome Katori Shinto Ryu a expressão tenshin shoden, que significa “tradição celeste”. Isso nos dá o nome completo da tradição, ‘Tenshin Shoden Katori Shinto Ryu’, que significa ‘a tradição marcial que é o caminho dos deuses’. Como a palavra ‘Shinto’, que significa ‘o caminho dos deuses’, significa o caminho verdadeiro e correto que os homens devem seguir, à semelhança de todas as tradições xintoístas que nos foram transmitidas desde os tempos antigos, está implícita nela a idéia de um caminho que as pessoas devem trilhar com um coração sincero. Ao que parece, foi assim que Choisai Sensei entendeu esse conceito e usou-o em sua tradição marcial.”



 Estátua da deusa Marishiten.



 Marishiten:
Chamada de Marici em sânscrito, ela é considerada a deusa do alvorecer, ao mesmo tempo em que é a deificação da miragem, da coroa solar ou raios do sol.
No Mikkyô, o budismo escotérico, o Buda que representa o Sol é Mahavairocana  (Dainichi Nyorai). A deusa Marishiten tem função levar a luz do Buda para a terra, por issso ela é vista como uma entidade (Bodhisattva) que salva as pessoas em nome de Buda, sendo chamada de Marishiten Bosatsu.
Além disso, como a luminosidade do sol é muito grande, se diz que não é possível ver a deusa. Ou seja, também é considerada uma deusa invisível que vela pelos homens.
No Japão, esta deusa foi introduzida na Era Heian e foi adorada pelos guerreiros, sendo a deusa para quem oravam pela vitória. Marishiten foi escolhida por ser representação da miragem, aquela que não pode ser atingida. Assim, uma deusa invisível que protegia as pessoas contra os ataques dos inimigos era uma divindade perfeita para reverenciada pelos guerreiros.
Muitos estilos prestavam homenagem  a essa deusa. Ainda hoje, há estilos que recitam palavras dedicadas a ela antes de iniciarem o treinamento.

Fonte: Peregrinos do Sol, Arte da espada Samurai 

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